Gheranda Samhita lll
Gheranda Samhita lll - Pratyahara e Pranayama
चतुर्थ उपदेश ॥ ४॥ caturtha upadeśa || Capítulo 4: Pratyāhāra
2- यतो यतो निश्चरति मनश् चञ्चलम् अस्थिरम्। ततस् ततो नियम्यैतद् आत्मन्य् एव वशं नयेत्॥ ४॥ २॥
3- यत्र यत्र गता दृष्टिर् मनस् तत्र प्रयच्छति। ततः प्रत्याहरेद् एतद् आत्मन्य् एव वशं नयेत्॥ ४॥ ३॥
4- सुगन्धे वापि दुर्गन्धे घ्राणेषु जायते मनः। तस्मात् प्रत्याहरेद् एतद् आत्मन्य् एव वशं नयेत्॥ ४॥ ४॥
इति श्रीघेरण्डसंहितायां घेरण्डचण्डसंवादे घटस्थयोगे प्रत्याहारप्रयोगो नाम चतुर्थोपदेशः॥ ४॥
पञ्चम उपदेश ॥ ५॥ pañcama upadeśa ॥ Capítulo 5: Pranayama
4- अविश्वासं दूरदेशे अरण्ये रक्षवर्जितम्। लोकारण्ये प्रकाशश् च तस्मात् त्रीणि विवर्जयेत्॥ ५॥ ४॥
7- सम्यग्गोमयलिप्तं च कुटीरं तत्र निर्मितम् | एवं स्थानेषु गुप्तेषु प्राणायामं समभ्यसेत् || ५ || ७ ||
कदम्बं जम्बीरं बिम्बं लकुचं लशुनं विषम्। कामरङ्गं पियालं च हिङ्गुशाल्मलिकेमुकम्॥ ५॥ २५॥
kadambaṃ jambīraṃ bimbaṃ lakucaṃ laśunaṃ viṣam। kāmaraṅgaṃ piyālaṃ ca hiṅguśālmalikemukam॥ 5॥ 25॥
26/27- योगारम्भे वर्जयेच् च पथस्त्रीवह्निसेवनम्॥ ५॥ २६॥
O sūryabheda kūṁbhaka prāṇāyāma é o prāṇāyāma da “retenção que perfura o sol” ou, mais explicitamente, que purifica a nāḍī solar, piṅgalā.
Técnica do sūryabheda
Descrevo a seguir uma forma simples da técnica:
a) Colocar as mãos em jñānamudrā;
b) obstruir a narina esquerda (lunar) utilizando o dedo médio da mão direita, preferencialmente logo acima da narina, bloqueando a passagem do ar;
c) inspirar (pūraka) pela narina direita (solar);
d) reter o alento, executar jalāṇḍhārabandha e deglutir a saliva;
f) desfazer o jalāṇḍhārabandha, obstruir a narina direita e expirar (recaka) pela esquerda;
g) repetir a sequência, inspirando sempre pela narina solar e expirando sempre pela narina lunar.
Depois de dominar bem esta sequência, pode-se, no fim ou durante todo o kūṁbhaka (retenção com ar), executar uḍḍīyanabandha e mūlabandha e depois expirar.
Ou seja, executar o bandhatraya (jalāṇḍhārabandha, uḍḍīyanabandha e mūlabandha) no final da retenção e durante a expiração.
Como em outros prāṇāyāmas pode ser acrescentado ritmo e uma combinação diferente dos bandhas.
O sūryabheda nos śāstras
Vejamos, agora, a descrição da Haṭhayoga Pradīpikā:
“Para fazer este kūṁbhaka, o yogin deve sentar-se em um āsana adequado, em um assento confortável, e inalar lentamente pela fossa nasal direita (piṅgalā).
“Na sequência, deve praticar kūṁbhaka até sentir o prāṇa penetrar em todo o seu corpo, desde a ponta dos cabelos até às unhas dos pés; então deve exalar lentamente através da fossa nasal esquerda (īḍā).” [1] (II, 48-49).
Os āsanas para a prática de prāṇāyāma são de pouca ou nenhuma solicitação muscular, mas implicam alguma flexibilidade muscular e articular.
São āsanas sentados com as costas naturalmente erectas, da categoria denominada dhyānāsanas, justamente por serem também os melhores para dhyāna (meditação).
Os quatro clássicos são: samānāsana, siddhāsana, padmāsana, svastikāsana, e como alternativas vajrāsana, vīrāsana, bhadrāsana.
Há que ter sobretudo em atenção que as costas devem estar sempre erectas, com a cabeça e o pescoço no alinhamento da coluna.
A inspiração é feita pela narina direita correspondente à nāḍī positiva _ piṅgalā – que produz calor corporal e gera energia.
A referência à duração da retenção com ar (kūṁbhaka) deve ser entendida habilmente. Por isso, num trecho anterior, a Haṭhayoga Pradīpikā adverte:
“Deve-se controlar o prāṇa gradualmente, do mesmo modo como se domam os leões, os elefantes e os tigres (pouco a pouco, com paciência e energia), pois se assim não fosse o praticante poderia morrer).’ (II, 15).
Quer isto dizer que não se pode esperar dominar o prāṇāyāma de um dia para o outro, mas uma vez consciente disso o praticante deve esforçar-se com energia e afinco na prática e não fazê-la de forma ‘tamásica‘.
Com estas considerações, a indicação é a de que se deve explorar a duração do kūṁbhaka (retenção com ar) até ao limite do controle individual de cada um.
Claro está que aqueles que sofrem de tensão alta se devem abster destas retenções.
A Haṭhayoga Pradīpikā volta a dar a indicação para que se expire lentamente.
Assim, se no fim da retenção sentir necessidade de expirar rapidamente para fazer nova inspiração, é sinal que a retenção foi demasiado prolongada e deve ser reduzida de modo a trazer equilíbrio a todas as fases da respiração.
A expiração lenta impede a dissipação do prāṇa acumulado.
“Este excelente sūryabhedana deve ser praticado sucessivas vezes, pois esvazia o cérebro (lóbulos frontais e seios nasais), combate os parasitas intestinais e cura os males causados pelo excesso de vāta.” (II, 50).
Esta referência ao dośa vāta demonstra a conhecida relação entre o Yoga e o Ayurveda desde tempos antigos.
Os textos do Haṭhayoga, nomeadamente, fazem referências frequentes aos efeitos das diferentes técnicas sobre os dośas, como neste caso.
Assim, o prāṇāyāma influencia de forma diferente os praticantes consoante o seu dośa.
Dośa, que significa literalmente ‘falha’, indica os factores que dão origem à doença ou à decadência da saúde.
De acordo com o Ayurveda, existem três dośas que correspondem ao bio-tipo de cada ser-humano conforme a interacção dos cinco elementos (bhūtas) e que são:
- vāta associado ao elemento ar (vāyu) e espaço (ākaśa),
- pitta, associado ao elemento fogo (tejas), e
- kapha associado aos elementos pṛthivī (terra) e apas (água).
O texto diz-nos que o prāṇāyāma corrige os desequilíbrios do dośa vāta, o que se compreende porque a respiração pela nāḍī solar (direita) seguida da retenção prolongada estimula o elemento agni, fogo, o que ajuda a equilibrar os elementos elemento ar, vayu e espaço, ákásha (associados ao dośa vāta).
A referência em muitos textos apenas ao dośa vāta é normal uma vez que este é o dośa principal [2].
Confrontemos com o que nos diz a Gheraṇḍa Saṁhitā:
“Gheraṇḍa disse:
“Expliquei-te o sahita kūṁbhaka; agora ouve a instrução sobre o sūryabheda.
“Inspira com toda a tua força o ar externo pelo tubo solar (narina direita).
“Retém este ar com grande cuidado enquanto executas jalāṇḍāramudrā. Mantém a retenção enquanto a transpiração não sair pelas pontas das unhas e pela raiz do cabelo.” (V,58-59).[3]
O jalāṇḍārabandha ou jalāṇḍāramudrā, como é aqui chamado [4], auxilia a execução do kūṁbhaka.
Pormenores importantes
Como sempre as costas devem ser mantidas erectas e é de evitar o curvar da coluna na execução do bandha.
Mesmo que não seja possível a pressão do queixo no peito o importante é criar uma pressão na depressão jugular.
Este bandha pressiona o prāṇa para baixo em direcção à entrada de suṣumṇā nāḍī, e ainda corta a passagem do fluxo de prāṇa entre o plexo solar, no abdómen, e o plexo lunar, no alto da cabeça, evitando o arrefecimento do primeiro, bem como o aquecimento do segundo plexo.
Diz-nos a Yogacudamaṇi Upaniṣad:
“Graças ao jalāṇḍārabandha, que contrai a cavidade da garganta, o néctar que desce do lótus de mil pétalas, não se queima no fogo digestivo e controlando as forças vitais, desperta a kuṇḍalinī.”
A seguir a esta citação do prāṇāyāma, a Gheraṇḍa Saṁhitā enuncia os principais vāyus e suas funções.
O prāna genérico (ou vāyu) divide-se em cinco prāṇas ou vāyus principais, que são: prāṇa, apāna, udāna, samāna e vyāna.
O prāna está situado no alto do tórax, na região do coração, e o seu percurso começa no umbigo e vai até à garganta.
Este vāyu associado à respiração é activado pela inspiração e é responsável pela captação da energia do meio ambiente para vitalizar o corpo.
Apāna está situado abaixo do tórax, na região coccígea, é o vāyu responsável pelos processos de excreção e expulsão no corpo e é activado pela expiração.
O prāṇāyāma procura, sobretudo, unir estes dois vāyus (prāna e apāna) através da inversão das suas direcções naturais no maṇipuracakra.
Quando prāna e apāna se unem é estimulado o despertar da kuṇḍalinī e isso ‘proporciona resultados de particular importância para a experiência definitiva do Yoga.‘[5].
Segundo a Haṭhayoga Pradīpikā, ‘quando apāna e o fogo se unem ao prāṇa, quente por natureza, um clarão intensamente abrasador brota no corpo.'(III-67)
“Kuṇḍalinī adormecida, aquecida por esse abrasamento, desperta. Tal como uma serpente tocada por uma vara, ela se levanta sibilando; e, como se entrasse em sua toca, entra na brahmānāḍī (suṣumṇā, o canal central).’ III-68,69).
Os outros três vāyus principais são: samāna, situado no plexo solar, na região do umbigo, e cuja função principal tem a ver com a digestão, alimentando o fogo gástrico; udāna que actua na garganta e é responsável pela deglutição.
Já vyāna tem como função distribuir a energia por todo o corpo e tem como função principal estimular a circulação sanguínea.
Este é o vāyu (ar vital) que interage e mantém a coesão dos outros vāyus.
Existem ainda os chamados vāyus secundários que governam outras funções do corpo, voluntárias e involuntárias, e que são: nāga, responsável pelo soluço e pela erucção, kūrma, permite o pestanejar dos olhos, kṛkāra, produz a fome e a sede, devadattā, provoca o bocejo, dhanañjaya elabora a decomposição do corpo após a morte.
“Que ele eleve todos estes vāyus da raiz do abdómen por sūryanāḍī; depois expire por īḍānāḍī lentamente e de forma continuada.
“Inspire outra vez pela narina direita, retenha como ensinado acima e exale. Faça-o repetidas vezes.
“Neste processo o ar é sempre inspirado através da sūryanāḍī. Sūryabheda kūṁbhaka destrói o envelhecimento e morte; desperta kundalīśakti; aumenta o calor corporal.
“Ó Canda, assim, ensinei o sūryabhedana kūṁbhaka.'(V, 66-68).’
Repare-se que em cima foi dada a indicação para se fazer o jalāṇḍhārabandha; agora para elevar a energia da raiz do abdómen.
Sabemos ainda que o sūryabheda prāṇāyāma desperta kuṇḍalīśakti, que é outro nome para a kuṇḍalinī.
Ora, relembrando o que foi dito acerca dos vāyus, sobretudo prāṇa e apāna, podemos ver aqui a indicação para o uḍḍīyanabandha e mūlabandha sugeridas na descrição inicial que se deu do prāṇāyāma.
O uḍḍīyanabandha consiste na retracção do abdómen até que o contorno das vértebras se desenhe na pele abdominal [6] e além de estimular a circulação propicia a subida do vāyu apāna:
“Por este processo, o grande pássaro (alento) é instantaneamente forçado a subir por sushumná e move-se por ali apenas”. Gheraṇḍa Saṁhitā, III,10.
O mūlabandha também inverte o fluxo natural descendente do vāyu apāna. Associando este conhecimento ao que nos diz a Haṭhayoga Pradīpikā corroboramos a válida utilização dos bandhas como se descreveu.
Vejamos:
“Ao final de pūraka deve-se praticar jalāṇḍhārabandha; e, ao final de kūṁbhaka e no início de recaka, deve-se fazer uḍḍīyanabandha . Praticando-se jalāṇḍhārabandha, mūlabandha e uḍḍīyanabandha ao mesmo tempo (durante a expiração), o prāṇa flui por suṣumṇā.
“Impulsionando o apāna para cima (com mūlabandha) e fazendo descer o prāṇa a partir da garganta (com jalāṇḍhārabandha), o yogin livra-se da velhice e torna-se um jovem de dezasseis anos.” (II, 45-47).
Pūraka é a inspiração, kūṁbhaka a retenção e recaka a expiração.
Finalmente dir-se-á que o sūryabheda, à semelhança de outros prāṇāyāmas como o bhastrikā, podem ser especialmente úteis antes da meditação para os praticantes que, chegados a esse momento, sejam dominados por tamas (inércia ou letargia).
Nesse caso, o sūryabheda prāṇāyāma torna a mente (citta) mais alerta e menos dormente, o que é essencial para a prática do samyāma (concentração, meditação e samādhi).
॥ हरिः ॐ ॥
[1] Svātmārāma Yogendra, Haṭhayoga Pradīpikā, Tradução de Pedro Kupfer, Instituto Dharma-Yogashala, 2002, Florianópilis, Brasil.
[2] ‘Vāta, que significa literalmente vento, é o dośa primário ou força biológica. É o poder de motivação por detrás dos outros dois doshas, que são incompletos ou incapazes de se mover sem ele.’ David Frawley, Yoga & Ayurveda, Self-Healing and Self-Realization,1a Edição, Lotus Press, 1999, Winsconsin, pag. 41. Sobre Ayurveda vejam-se os artigos já publicados nos Cadernos de Yoga.
[3] Tradução para o português feita pelo autor a partir de The Forceful Yoga, Being the Translation of Haṭhayoga Pradīpikā, Gheraṇḍa Saṁhitā and Śiva-Saṁhitā, tradução para o Inglês de Pancham Sinh e Rai Bahadur Srisa Chandra Vasu, 1a Edição, Motilal Banarsidas Publishers, 2004, Delhi, Índia.
[4] Theos Bernard ensinava que a distinção entre bandha e mudrá é meramente teórica e não deve causar nenhuma confusão, porque ambos são uma e mesma coisa. Veja-se Haṭha Yoga, The Report of a Personal Experience, 4a Impressão, Essence of Health Publishing, 2001, Africa do Sul, pag 60, nota no 3.
[5] André Van Lysebeth, Pranayama, A la serenidad por el Yoga, Ediciones Urano, 1985, Barcelona, pag. 250.
[6] Claro está que, se o bandha for utilizado no kūṁbhaka (antārakūṁbhaka) deve ser executado de forma mitigada em virtude de os pulmões estarem cheios.
Ou seja, apenas se contrai o baixo ventre, abaixo da linha do umbigo, tal qual se faz na prática de āsana com o bandha.
॥ हरिः ॐ ॥
Nāḍīśodhana prāṇāyāma é a a respiração alternada. O nome significa “purificação das nāḍīs”. Nāḍīs são os canais da energia vital.
Este respiratório é importantíssimo no Yoga, pois promove o bhūtaśuddhi, a purificação dos elementos do corpo sutil, requisito preliminar e indispensável para as práticas mais avançadas. O nāḍīśodhana deve ser sempre silencioso e agradável.
O ritmo
Quando já tiver desenvolvido facilmente a mecânica do nāḍīśodhana, acrescente o ritmo, começando com a proporção 1:1:1:0. Nesse ritmo, cada fase tem a mesma duração que as demais.
Depois, se estiver se sentindo bem dentro dele, poderá passar para os ritmos 1:2:2:0 e 1:2:2:*. Nesses ritmos, a retenção com ar nos pulmões cheios e a expiração tem o dobro da duração da inspiração.
No primeiro caso, 1:2:2:0, não há retenção com os pulmões vazios. No segundo, 1:2:2:*, a retenção é livre.
Posteriormente, os de proporção 1:4:2:0 e 1:4:2:*, que são os mais potentes. Nesses casos, o tempo de retenção com os pulmões cheios é quatro vezes maior do que a inspiração.
O tempo de expiração é o dobro do tempo da inspiração. Na proporção 1:4:2:0 não há retenção vazia e na proporção 1:4:2:* essa retenção é livre.
Se em algum momento sentir que perde o fôlego ou que fica ofegante, reduza proporcionalmente a duração de cada fase até achar o tempo ideal para a sua capacidade pulmonar.
Um detalhe: este respiratório precisa fazer-se sem forçar nada, sem fazer ruído, sem ressoar, sem perder o fôlego, sem cansar-se, sem mudar de posição, sem mover-se e sem oscilar.
Dentro do possível, o corpo deve permanecer firme como uma rocha.
Deve praticar-se apenas pela manhã, antes das nove horas; preferentemente, entre as quatro e as seis.
Quantos ciclos fazer?
Vinte ciclos é uma ótima forma de se começar. Um ciclo completo de respiração alternada significa que você inspira por uma narina, retém o ar, exala pela outra, e retém sem ar.
Se não tiver tempo para fazer vinte ciclos, inicie com dez em cada prática.
Como levar a contagem sem distrair-se
Para contar, você deve usar o japamālā de dez contas da sua própria mão. Use a esquerda, pois com a direita você irá obstruir as narinas.
Comece na segunda falange do dedo anular (1), e vá em sentido anti-horário, pela terceira falange do mesmo dedo (2).
Depois descendo para a terceira (3), a segunda (4) e a primeira falange (5) do mínimo.
Depois, para a primeira falange do anular (6), a primeira falange do dedo médio (7), a segunda (8) e a terceira (9).
Finalmente a terceira falange do indicador (10). Depois se faz o caminho inverso, começando a segunda contagem no mesmo ponto em que a primeira terminou (de 11 a 20).
Os números ímpares correspondem à inspiração pela narina esquerda (īdānāḍī); os pares, à narina direita (piṅgalānāḍī).
Recomendações para fazer esta respiração alternada
Devem usar-se as contrações (bandhas), durante o kūmbhaka: jalāṇḍhara e mūla, garganta e esfíncteres.
Para iniciantes, deve-se substituir o jalāṇḍhara pelo khecharīmudrā, elevação da língua.
Durante o a retenção vazia se faz o bandhatraya, a ativação tríplice: assoalho pélvico, baixo ventre e garganta.
Para alternar a respiração se usa viṣṇumudrā, com a mão direita frente ao nariz, e os dedos indicador e médio recolhidos na palma.
A mão se movimenta o mínimo possível: apenas as pontas dos dedos obstruem alternadamente a depressão acima das narinas, sem forçar nada.
O braço pode ficar em contato com a caixa torácica, para não se cansar.
Efeitos
Este prāṇāyāma é ótimo para revigorar o sistema nervoso, melhorando o rendimento da pessoa no plano intelectual, tonificando e mantendo a saúde geral, o foco e a boa disposição.
Os sinais visíveis da purificação do corpo sutil são uma melhora no estado físico, a pele suave e brilhante e muita vitalidade.
Vamos agora à prática da respiração alternada.
Depois do sūryabhedhana, a Haṭhayoga Pradīpikā e a Gheraṇḍa Saṁhitā citam o ujjāyī como o kūṁbhaka seguinte, o segundo e o terceiro de cada um daqueles textos, respectivamente.
Segue-se a descrição do ujjāyī prāṇāyāma, a respiração vitoriosa com contracção da glote:
a) Inspirar pelas narinas, contraindo levemente a glote e produzindo um leve ruído que deve ser suave e contínuo;
b) reter o ar nos pulmões com a glote totalmente fechada e jalāṇḍhārabandha;
c) expirar pelas narinas, contraindo a glote e produzindo o mesmo ruído suave do atrito do ar na garganta, que Swami Satyananda chama de suave ressonar.
Costumo pedir aos meus alunos que têm dificuldade em perceber como se contrai a glote para deglutirem a saliva. O movimento que se cria ao nível da garganta é uma contracção da glote.
Basta, então, criar esse movimento e mantê-lo de forma à glote ficar parcialmente fechada e inspirar e expirar dessa forma, como se o ar entrasse e saísse directamente pela garganta.
Theos Bernard foi ensinado a lavar a língua e a boca antes de começar este prāṇāyāma [1].
Mais uma vez deixei uma sugestão simples da prática do ujjāyī que não é mais do que uma entre outras. André Van Lysebeth, por exemplo, dava a seguinte indicação:
‘Kūṁbhaka deve acompanhar-se necessariamente de mūlabandha. Isto é muito importante.[2]‘
Indicação que B.K.S Iyengar[3] também dá para os estágios mais avançados do pránáyáma.
Já o ensinamento de Swāmi Satyānanda é no sentido do pránáyáma ser praticado com khecharī mudrā.
O ujjāyī aumenta a temperatura e o calor corporal, normaliza o funcionamento da glândula tiróide e do sistema endócrino, estimula o relaxamento e a interiorização.
O ujjāyī é uma técnica auxiliar de várias meditações, como o ajapajapa.
Muitos também conhecem este prāṇāyāma por ser ele aplicado em algumas práticas de āsana, como a do Aṣṭāṅga Vinyāsa Yoga.
Ele é utilizado não só pelos seus efeitos físicos, mas também porque facilita a concentração na respiração e no ritmo respiratório, o que promove uma maior vivência do ásana.
Vejamos, então, o que nos diz a Haṭhayoga Pradīpikā [4]:
“Depois, pratica-se kūṁbhaka segundo a descrição anterior, mas exalando pela narina esquerda (īḍā); com esta técnica eliminam-se os problemas de excesso de mucosidade na garganta e incrementa-se a capacidade digestiva.” (II, 51-52).
‘Pratica-se kúmbhaka segundo a descrição anterior’, ou seja, segundo a descrição do sūryabhedana — “praticar kúmbhaka até sentir o prána penetrar em todo o seu corpo, desde a ponta dos cabelos até às unhas dos pés”.
Valem as mesmas considerações feitas anteriormente, lembrando que as retenções com ar prolongadas devem ser sempre mantidas com jalándhara bandha.
Este bandha estimula o sistema para-simpático, regula os batimentos cardíacos, respiração e pressão arterial de forma a permitir um estado de relaxamento e bem-estar sem riscos durante a retenção.
Admitem-se algumas formas de ujjáyí. Variações no que toca à expiração são um exemplo. Assim, o texto citado indica a expiração pela narina esquerda, quando na Gheranda Samhitá parece estar sugerida a expiração pela boca.
‘A respiração ujjáyí também cura a hidropsia e os desequilíbrios nas nádís e nos dhátus; este kúmbhaka pode ser praticado em pé, estando imóvel ou caminhando.’ (II, 53).
Esta citação dá-nos mais uma referência sobre os efeitos do ujjáyí pránáyáma. Ficamos a saber que pela sua prática são corrigidos os desequilíbrios nas nádís e nos dhátus.
A referência às nāḍīs é familiar. Os dhātus são os constituintes do organismo e são em número de sete: a pele (rāsa), o sangue (rakta), a carne (māṁsa), a gordura (medas), o osso (asthi), a medula (majjā) e o esperma (śukra).
Refira-se que este é o único pránáyáma citado nas três escrituras que temos referido (Haṭhayoga Pradīpikā, Gheraṇḍa Saṁhitā e Śiva Saṁhitā) sobre o qual se dá indicação expressa de que poderá ser feito em pé e tanto imóvel como em movimento. Percebe-se assim, porque em muitas práticas de Haṭha Yoga ele é utilizado durante a prática de ásana.
Gheraṇḍa Saṁhitā [5]:
‘Feche a boca, inspire o ar externo por ambas as narinas, e eleve o ar interno dos pulmões e garganta; retenha-o na garganta. Então tendo lavado a boca (isto é, expelido o ar pela boca) execute jalándhara. Que ele execute kúmbhaka com todo o seu poder e retenha o ar confortavelmente.’ (V, 69-70).
De acordo com de Pancham Sinh e Rai Bahadur Srisa Chandra Vasu [6], a referência ‘tendo lavado a boca’ é uma indicação da expiração pela boca.
Desconhecem-se os motivos daqueles tradutores para tal interpretação, apesar de se reconhecer o sentido da mesma. Em sentido diferente, o Yogí Pranavánanda, na sua tradução e comentário da Gheranda Samhitá dá-nos a seguinte tradução:
‘Inspire o ar exterior por ambas as narinas e retenha-o na boca. Eleve o ar dos pulmões e garganta e retenha-o na boca. Com a boca assim lavada e fechada, execute jalāṇḍhārabandha. Kūṁbhaka deve ser praticado com toda a sua capacidade, mas sem desconforto’ [7] (V, 69-70).
Seja como for, a essência do prāṇāyāma não se altera. À boa maneira yogī há que experimentar e observar…
O que já não é indiferente é que, conforme se siga uma ou outra tradução, a retenção é feita sem ar (no primeiro caso) e com ar (no segundo), cada uma com intenções e resultados diversos. Haverá, pois, que decidir conscientemente.
‘Todos os obstáculos são conquistados pelo ujjáyí kúmbhaka. Aquele que o pratica nunca se vê afectado por doenças de fleuma e doenças nervosas, indigestão, desinteria, definhamento, tosse, febre e dilatar do baço. Que um homem execute ujjáyí para conquistar a velhice e a morte’ (V, 69-70).
Jaya, Jaya!
॥ हरिः ॐ ॥
[1] Haṭha Yoga, The Report of a Personal Experience, 4a Impressão, Essence of Health Publishing, 2001, Africa do Sul, pag 52.
[2] André Van Lysebeth, Prāṇāyāma, A la serenidad por el Yoga, EdicionesUrano, 1985, Barcelona, pag. 237, tradução do autor.
[3] Veja-se B.K.S. Iyengar, Luz sobre el Prāṇāyāma, 2a Edição, Editorial Kairós, 2001, Barcelona, Espanha.
[4] Svatmarama Yogendra, Haṭhayoga Pradīpikā, Tradução de Pedro Kupfer, Instituto Dharma-Yogashala, 2002, Florianópilis, Brasil.
[5] Tradução para o português feita pelo autor a partir de The Forceful Yoga, Being the Translation of Hathayoga-Pradipika, Gheranda-Samhita and Śiva Saṁhitā, tradução para o Inglês de Pancham Sinh e Rai Bahadur Srisa Chandra Vasu, 1a Edição, Motilal Banarsidas Publishers, 2004, Delhi, Índia.
[6] The Forceful Yoga, Being the Translation of Hathayoga-Pradipika, Gheranda-Samhita and Shiva-Samhita, tradução para o Inglês de Pancham Sinh e Rai Bahadur Srisa Chandra Vasu, 1a Edição, Motilal Banarsidas Publishers, 2004, Delhi, Índia, pag. 131.
[7] Tradução para o português feita pelo autor a partir de Pure Yoga (A translation from the Sanskrit into English of the tantric work, The Gherandasamhita with a guiding commentary by), Yogi Pranavananda, reimpressão da 1a Edição, Motilal Banarsidas Publishers, 2003, Delhi, Índia.
॥ हरिः ॐ ॥
Shíta significa frescor, frio. O nome deriva do seu efeito refrescante. Nesse exercício a inspiração é feita pela boca, enquanto que a expiração é pelas narinas. Coloque a língua em forma de calha, deixando-a ligeiramente para fora da boca e pressionando-a com os lábios.
Inale, fazendo o ar passar pela língua e sentindo o contato dele com a garganta, laringe e traquéia. Retenha durante um bom tempo, fazendo jihva bandha, a contração da língua, pressionando-a no céu da boca. Solte o ar vagarosamente pelas narinas e volte a inspirar pela boca, com a língua formando um canudo. Execute diversos ciclos.
Efeitos: elimina o calor, a sede, a fome e as toxinas acumuladas no organismo. Melhora a digestão e acaba com a acidez estomacal. É indicado para ser feito durante o jejum, pois elimina as sensações de fome e de sede e refresca o hálito.
Bhastrikā, a respiração do fole
Bhastrikā, em sânscrito, significa fole. O nome provém da comparação entre o movimento do abdômen durante a respiração acelerada e o de um fole funcionando.
Esse prāṇāyāma ocupa um lugar muito importante dentro do Yoga.
Produz uma oxigenação muito mais intensa que todos os outros, limpa os pulmões e as vias respiratórias e é altamente energizante e vitalizante, podendo eliminar o cansaço e a depressão em poucos instantes.
॥ हरिः ॐ ॥
Pratique junto com o Pedro um ciclo de bhastrikā prāṇāyāma em 4 minutos neste vídeo, que inclui ainda uma concisa explanação sobre o uso do uḍḍīyanabandha durante este respiratório.
Sentado na postura da sua preferência com as costas eretas, faça por alguns instantes a respiração abdominal. Aos poucos, comece a acelerar o ritmo, contraindo ao máximo o abdômen a cada exalação.
Isso deve produzir um ruído bem alto e forte. A inspiração acontece espontaneamente, quando o diafragma e o ventre se expandem.
Ao exalar, o diafragma se eleva e a musculatura reta abdominal se contrai vigorosa e rapidamente. Ao inspirar, o abdômen se projeta para fora. Ao exalar, ele se contrai com força.
Você poderá fazer vários ciclos desse respiratório, contando o número de exalações.
No início serão algumas dezenas, que você irá progressivamente aumentando até vários centenares.
Após um certo tempo de prática, quando houver eliminado aqueles sinais de desconforto decorrentes do exercício você conseguirá aumentar ainda mais a duração de cada ciclo.
Dizemos isso pois, ao começar, poderá sentir desconforto ou até algumas pequenas dores musculares nos flancos, na região abdominal ou nas costas),
É aconselhável fazer uma retenção com pulmões cheios combinada com os bandhas do períneo e o baixo ventre (mūla e uḍḍīyanabandha), no final de cada ciclo de bhastrikā.
Durante as primeiras vezes que o fizer, a fim de fortalecer e treinar a sua capacidade vital, sugerimos que você faça o kūmbhaka juntamente com jīhvabandha (contração da língua no céu da boca) e aśvinīmudrā (contração ritmada dos esfíncteres do ânus e da uretra).
Quando começar a fazer retenções prolongadas, utilize o jalāndharabandha, a suave compressão do queixo em direção ao tórax, combinado com mūlabandha, a ativação do assoalho pélvico.
“O bhastrikā prāṇāyāma seguido de um kūmbhaka, uma retenção da respiração com os pulmões cheios, é praticado especificamente para ativar a força kuṇḍaliṇī.
“Donde pode o medo da morte surgir ao yogin que realiza tapas (esforço sobre si próprio) e pratica diariamente com regularidade?” Haṭhayoga Pradīpikā, III:122.
Preste atenção para não contrair a musculatura da fisionomia nem movimentar os ombros durante o exercício.
Efeitos: fortalece a parede abdominal, aumenta a circulação sangüínea e tonifica o sistema nervoso.
Normaliza as funções dos aparelhos digestivo e excretor. Oxigena todo o organismo e revitaliza os tecidos.
No plano sutil, provoca um aumento relevante da consciência de si próprio e da força de vontade.
Contraindicações: evite praticar este prāṇāyāma se tiver alguma cardiopatia, hipertensão arterial, glaucoma ou estiver com gripe ou enxaqueca. Igualmente, esta prática deve ser evitada durante a gravidez.
॥ हरिः ॐ ॥
Bhramārī é um prāṇāyāma, um respiratório do Yoga, mas é igualmente um dos exercícios mais eficientes de retração dos sentidos, pratyāhāra.
A retração dos sentidos é o passo prévio e essencial para realizar os estados profundos da meditação.
É um exercício muito simples. Veja a descrição que aparece na Haṭhayoga Pradīpikā (II:68), um dos textos clássicos da prática avançada de Haṭha:
“Inspire rápida e vigorosamente, produzindo um som reverberante, semelhante ao zumbido do zangão. Expire muito lenta e suavemente, com um som parecido ao zumbido da abelha.”
Bhramārī: como proceder?
Sente-se numa posição de meditação, mantendo a espinha ereta e os olhos fechados, sem contrair a musculatura de rosto nem tensionar as costas.
Eleve os braços e coloque as mãos sobre a cabeça, obstruindo firmemente os canais auditivos com os polegares.
A respiração deve fluir sem interrupções. Não é aconselhável fazer retenções.
O som a que se refere o texto acima é um murmúrio, como se pronunciássemos a letra m de forma baixa e contínua, imitando o som do vôo de uma abelha.
Comece a emitir o som na exalação, concentrando-se nele e sentindo como vibra no interior da caixa craniana. Escute os sons do seu próprio corpo durante a inspiração.
Se, após alguns ciclos você começar a sentir os braços cansados, descanse as mãos sobre os joelhos enquanto estiver inspirando, e volte a colocá-las nos ouvidos quando for exalar, continuando assim até o fim do exercício.
Melhor ainda é usar o yogadaṇḍa, um suporte de madeira em forma de letra t onde você apoia os cotovelos para poder ficar por mais tempo na postura sem sofrer. Faça isto até completar 20 fôlegos, procurando perceber os sons sutis, que vibram no interior do seu corpo.
Após alguns minutos, você irá perceber como, naturalmente, os seus pensamentos se detém na contemplação deste som.
Começamos assim por recolher o sentido da audição e voltá-lo para o interior, prestando atenção aos sons internos.
O tempo ideal de prática oscila entre dez e quinze minutos.
Bhramari desperta a sensibilidade, clarifica as idéias e detém as instabilidades do pensamento. É um excelente preparatório para os exercícios de concentração.
Este exercício acaba com o mau humor, ativa o sistema nervoso e tonifica o aparelho respiratório.
Desperta a sensibilidade, clarifica as idéias e detém as instabilidades do pensamento.
É um excelente preparatório para os exercícios de retração dos sentidos e concentração.
Múrcchá significa desvanecimento, vertigem ou ainda expandir, penetrar, ocupar. O nome tem a ver com expansão da consciência e assimilação do prána. Preparando-se para o pránáyáma, feche os olhos, coloque as mãos em jñána mudrá e mantenha a espinha ereta.
Inspire devagar e profundamente. Quando os pulmões estiverem totalmente cheios, pressione o queixo contra a parte alta do peito em jalándhara bandha, degluta saliva e contraia os esfíncteres em múla bandha. Retenha o máximo de tempo que você conseguir, esforçando-se para manter o kúmbhaka um pouco além do limite natural do seu conforto. Observe a sensação de vazio. Exale com controle e suavidade.
Concentre-se em conseguir a mínima projeção de ar. Se for necessário, respire de forma espontânea durante alguns ciclos antes de reiniciar o exercício. Deve-se controlar a sensação de desvanecimento que acontece por causa da diminuição da taxa de oxigênio no sangue que irriga o cérebro e pela diminuição da pressão sangüínea provocada pelo jalándhara bandha.
Múrcchá é indicado apenas àqueles praticantes que já tiverem um excelente grau de purificação e uma boa capacidade pulmonar. Para esses, recomendamos a execução de cinco a dez ciclos. Como cada ciclo pode ultrapassar os três minutos de retenção, esse número é suficiente para fazer uma boa prática.
Efeitos: este pránáyáma limpa a consciência de pensamentos desnecessários e possui um efeito introversor, reduzindo as influências do mundo exterior que nos invadem através dos sentidos. Favorece a concentração mental. Pessoas com problemas cardíacos ou de pressão alta devem abster-se de fazê-lo.
इति श्रीघेरण्डसंहितायां घेरण्डचण्डसंवादे प्राणायामप्रयोगो नाम पञ्चमोपदेशः॥ ५॥
É bom citar a fonte!!!
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