Mãos
Quanto mais nos afastamos do rosto, mais fácil é mentir com os nossos sinais silenciosos, já que o resto do corpo não está tão fortemente ligado aos centros emocionais do cérebro e está mais sob o nosso controle. Ainda bem que esquecemos de fazer isso. Ou seja, mentir com eles. As mãos são um meio-t ermo: somos muito conscientes delas,já que as vemos na maior parte do t empo, mas elas também fornecem um número enorme de sinais inconscientes.
Certos tipos de gestos das mãos são chamados de emblemas. Funcionam exatamente do mesmo jeito que as palavras: são gestos específicos, com significados específicos, conhecidos por todos os membros de certa cultura . Um exemp lo é o gesto apresentado por Winston Churchill, em que o indicador e o dedo médio se estendem, com a palma virada para a frente . Na maior parte do mundo oc idental, esse sinal é reconhecido como "V de v itória". Mentir com esse t ipo de gesto não é problema, é claro. Não faz mal exibir o sinal da vitór ia quando alguém pergunta se o seu tim e ganhou uma partida que na verdade tenha perdido feio.
Mas às vezes usamos esses tipos de gestos inconscient emente, num tipo de linguagem corporal equivalente ao ato falho freud iano. Quando esses tipos de gestos surgem como um
lapso inconsciente, são um bom indicador dos reais sentimentos de alguém pelo simples motivo de serem inconscientes. Porém, podem ser difíceis de perceber, já que costumam aparecer em posições corporais inusitadas se comparados ao uso comum. Um exemplo é o gesto que Paul Ekman descobriu ao reunir vários alunos numa entrevista com um professor extremamente antipático. O gesto inconsciente que descobriu em vários casos foi o punho com o dedo médio estendido. Sim, aquele gesto fatídico... Mas, em vez de ser um ato consciente, com o punho erguido, a mão estava sobre o joelho, com o dedo apontado para o chão. Sem dúvida um sinal de forte desagrado, embora a pessoa estivesse totalmente inconsciente de tê lo feito.
Outro gesto inconsciente comum é dar de ombros, que fazem os conscientemente para demonstrar que não sabemos, não temos uma opinião formad a ou não nos importamos. Mas, em vez de erguer os ombros, levantar as mãos e virar as palmas para fora na altura do peito,
como normalmente fazemos, o dar de ombros inconsciente acontece com os braços esticados pendendo para baixo. O movimento do ombro fi ca de fora, ou é mínimo, e os traços do emblema que vemos são as mãos virando para cima ou para fora na altura da cintura.
Outros tipos de movimentos com as mãos são aqueles que usamos para esclarecer o que estamos falando ou ilustrar um conceito abstrato. Como, por exemplo, quando desenhamos um quadrado no ar com o dedo e dizemos "era totalmente quadrado". Todos usam as mãos assim ao falar, ainda que fatores culturais e pessoais determinem a freq uência e a intensidade de tais gestos. Na Escand inávia não usamos muito as mãos ao falar, enquanto os italianos são os
grandes mestres dos gestos com as mãos. Mas todos usam as mãos de uma forma ou outra, e na
verdade somos muito dependentes desse tipo de gesto para entende r os outros, embora raramente observemos de modo consciente os gestos que os outros fazem com as mãos.
t impossível comunicar -se com alguém que ilustre as próprias palavras com gestos das mãos equivocados. Quando dou aulas, costumo ilustrar isso fazendo contato ocular com alg uém e perguntando que horas são, enquanto aponto para a j anela com a mão. A resposta invariavelmente é ·Hãããâ???", ainda que a pergunta literal seja tão simples de responder. Mas há ocasiões em que os nossos gestos com as mãos são mínimos: quando estamos muito cansados. Ou muito tr istes. O u muito entediados. Ou quando realmente precisamos pensar sobre o que estam os dizendo. E - pensar - sobre - cada - palavra - com - atenção. Como acontece quando mentimos.
A construção de pensamentos novos é um processo interno exigente. Quando precisamos nos concentrar nele, as nossas expressões externas ficam enfraquecid as. Os gestos com as mãos são express ões muito dist intas e a falta deles é sempre óbvia.
Quando pergunto como podemos notar se uma pessoa está mentindo, sempre tem alguém que menciona que os mentirosos coçam o nariz. É verdade que gestos com as mãos em direção ao rosto aumentam quando se mente, porém o mais comum não é coçar o nariz. Isso fica em segundo lugar. O gesto mais comum é cobrir a boca, como se quisesse impedir a mentira de sair ou como se você sentisse vergonha do que está prestes a dizer. É provável que todos os outros gestos com as mãos em direção ao rosto - ajustar os óculos, puxar o lóbulo da orelha, coçar o nariz - na verdade sejam o mesmo gesto básico que foi desviado da boca para fazer algo menos suspeito. Também é pos sível ver esse tipo de movimento da mã o em pessoas q ue estão simplesmente ouvindo alguém. Em geral cobrimos a boca quando tem os dúvida sobre algo q u e está sendo dito ou quando acha mos que não estão dizen do a ve rdade.fácil imaginar uma pessoa surpresa pensando: "N ão acred i to!" com olhos arregalados e cobrindo a boca com a m ão. Se observar esse comportamento em alguém, é hora d e se esforçar para ser mais claro e conf irmar a
verd ade do que vo cê está d izendo. Se você estiver dizendo a verdade, tudo bem . Se não
estiver, o seu nar i z pode com eçar a coçar ...
Assim como todos os outros sinais de mentira, o fato de alguém coçar o nariz não necessariamente ind ica algo além d e u m n ariz q u e coça. Mas, se acontecer rep etida m en te, pode ser uma boa ideia com eça r a procurar ou tros sina is de men ti ras ou emoçõe s ocultas.
O resto do corpo
Você também deve prestar aten ção a outras coisas, como postura, pe r nas e p és. A postura de uma pe ssoa in teressada cau sará a impressão de estar al erta, é cl aro, enqu anto u ma pessoa desin teressada nã o consegue evitar fica r um pouco recu ada. Se durar muito, acabamos nos recos ta ndo em um a parede ou n a bord a de uma mesa até perceber o quanto parecem os ent ediados, então tentamos mudar a si tuação, tossindo e ajustando a nossa post ura de modo muito óbvio.
Somos péssim os par a p er cebe r quais si nais estamos r evelando com as pern as e os p és, provavelmente porque passamos tanto tempo com as pernas escondida s sob m esas e por q ue aprendemos a somente olh ar para o ros to das pessoas, ignoran do o resto.
Um exemplo clássico de sinais contradi tór ios seria um agent e de viage ns que levou 40 minutos vendendo um pacote de féria s de 120 dólares a um jovem casal de nam orados, mas ficou pensa ndo em t odos os outr os pacotes que pod eria te r vend ido por muito mai s se esses garotos não o tive ssem pre n dido. Inconscie nt emente, ele fica chutando na d ireção deles, sob a mesa, o q ue é um sinal obviamente ag ressivo. Ou a ga rota tím id a nu m encontro rom ântico, ten tando pa r ecer à vontade, mas que, sob a mesa, fica com u ma perna cruzada sobre a outra.
Atos falhos gestuais
Vári as situa ções pod em causar tensão nervosa ou estress e. As vezes isso é natur al, por exemplo, quan d o v a mos a uma entrev ista de empreg o importante, p r oferim os um discurso nu ma grande festa, nos sentimos chateados e inqui et os, q ua ndo estamos pa ra ter o pri meiro filho, começamos na escola ou coisas assim. I sso se cham a "senti r u m fri o na barrig a".
Out ra coisa qu e também pode causar t ensão nervosa, estresse e ansiedad e é mentir sobre algo importante. Quan do est amos n essa situação, carregamos m uita en erg ia e ansiedade q ue prec i sam encontra r uma v álvula de escape . Se tentar mos não demonstr ar nada e nos concentrarmos em ficar completamente re laxad os, no fim começaremos a tremer. Podemos a té desmaia r se fica rmos tão tensos assim . Então é melhor nos ocupar fazendo algo. Existe um cer to tipo de ação que é como um sistema de escape pa ra a ansiedade e os nervos: atos falhos gestua is. Esse ti po de ação é u m sinal claro de que alguém está vivenciando muitos confl i tos in ternos ou tensão. Atos falhos gestuais são ações pequenas, repetitivas e sem sentid o. Por
exemplo, fi ca r abrindo e fecha nd o um a cane ta, rasgan do papel em pe d acinhos ou ba tendo com os dedos na mesa. Algumas pesquisas ind i cam qu e temos uma grande necessid ade d e manter as mã os constantemente ocupadas, port anto às vezes é difíci l det ermina r se o comportamento
observado em alguém é ou não um ato falho gestua l. Então é importante confirmar se é um ato recorrente e repetitivo (circular).
Alguém que tenha conseguido encontrar um bom ato falho gestual para se ocupar pode parecer calmo como um lago em todos os outros aspectos. Ele pode até nem saber por que arrumou todos os palit os d e dente no frasco. Mas você consegue perceber que é um sinal de forte estresse interno. O que você precisa descobrir é se está certo disso.
Os aeroportos do mundo todo têm funcionários que circulam pela área procurando exatamente esses sinais nos passageiros para identificar aqueles que têm medo de voar, mas tentam escondê-lo, já que poderiam causar problemas depois de estarem no av ião. G eralmente ficam na área de fumante s ou, se não houver área de fumant es, fora do terminal. (E, desde o ataque de 11 de setembro, os passag eiros nervosos são v istos em uma dim ensão completamente diferent e em vários países.) O cara de terno que sacode a cinza do cigarro mais do que necessário. A senhora sofi sticada que quebra todos os fósforos, um por um, antes de jo gá-los no cinzeir o. O ato de fumar em si,é claro, às vezes é um ato falho gestual muito óbv io se parecer mecânico, um cigarro atrás do outr o,em vez de um breve momento de prazer para o fumante. Numa conversa, o relações-públicas do aeroporto de Arlanda, Suécia, confirmou que os funcionários da alfândega e da segurança também são treinados para observar esses sinais.
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