Cabeça feita Monja Coen Zen para distraídos veja o vídeo:
E quando o obstáculo nem é seu? É o que acontece quando um membro da própria família se envolve com o vício das drogas. Já houve um tempo em que usar drogas não passava de uma experiência bem-intencionada para “abrir as portas da percepção”, usando uma expressão conhecida. No entanto, as drogas pesadas e os exageros se multiplicaram e aprisionam muitos nos tempos de hoje. Não é mais um “fazer a cabeça”, como se dizia antes.
— Oi, monja! Que satisfação, consegui ser atendida! Também estou passando por um aprendizado de rever a minha vida. Tenho problemas em casa, com um filho adulto enfrentando o vício das drogas, e todos nós estamos tendo de nos reavaliar, aprender a lidar com esta situação. Quando um filho entra nessa vida, acaba levando a família toda. Então, estamos vivendo esse processo, redescobrindo a nós mesmos frente a essa dependência, que é uma doença, não é?
— É verdade. É importante a família não se tornar codependente do filho. Os filhos não são nossos, como disse Gibran, mas do mundo. E tem o momento em que o cordão umbilical tem de ser cortado. As escolhas de vida de um filho são escolhas da vida dele. Como mãe ou pai, acompanhamos e orientamos, mas não podemos sofrer o sofrimento dele. É viver a própria vida com plenitude, cuidando do que é possível cuidar, mas não afundando com ele. Porque é essa força de estar vivo, presente, com fé, atuante no mundo, que pode ajudá-lo a sair da crise.
Evitar a codependência é como cortar o cordão umbilical. A família deve estar unida e próxima, auxiliar no que for possível, mas, se ela se deixar enredar pela situação, estará mantendo outro vício. Primeiro, porque há possibilidade de libertação para o viciado quando ele quer. E de dependência para aquele que não quer. Assim como para alcançar o nirvana. Pode-se lamentar, mas é a vida de cada um. Buda dizia que não há um lugar nesta Terra onde a pessoa possa escapar das consequências de suas ações. Se alguém escolhe a dependência, ele que terá de responder pelas consequências, não a família.
Cada um escolhe a sua ação. A família escolheu a não dependência. Não é fácil, todos sabem, mas existem trabalhos exitosos de grupos muito fortes que ajudam a livrar-se da codependência. Quando isso acontece, a família fica de cabeça feita. E o que é melhor: muitas vezes, quando o codependente se liberta, o dependente vai à procura da sua própria libertação.
Todo vício é falta de autoconhecimento e os vícios estão aí para todos. Não são apenas drogas, jogo, álcool. Há gente viciada em trabalho, em sexo. E há vícios que nem percebemos. O monge beneditino alemão Anselm Grün escreveu um livro, publicado também aqui no Brasil, intitulado Ser uma pessoa inteira (ed. Vozes, 2014). Coen Rôshi o conheceu aqui mesmo no país, quando veio para uma conferência, e a mestra foi convidada a participar da mesa, porque ele é praticante zen. Ou seja, um monge beneditino católico praticante do zen-budismo.
Tudo começou a partir de um momento em que todos estavam vivendo um ambiente de grande dificuldade na congregação do monge no mosteiro. A certa altura, decidiram convidar psicólogos, terapeutas e outros que pudessem ajudá-los a reencontrar a energia sagrada – que qualquer um de nós pode perder. E o zazen, a meditação zen-budista, exerceu um grande papel nesse resgate.
No livro, o monge diz que a verdadeira cura do vício não se consegue apenas por meio da disciplina. Claro que a disciplina é importante, muito importante, mas, mais do que ela, a cura se dá ao entrarmos novamente em contato com o anseio que queríamos reprimir por meio do nosso vício. Temos determinados anseios que são naturais, mas tentamos reprimi-los porque são feios, censuráveis etc. Então, eles viram um vício porque a pessoa se apega a outra coisa. “Estou com ciúme. Que feio!” Não posso esconder o que eu sinto, não posso fingir que não estou sentindo. Mas não posso ficar me censurando. “Que feio! Estou com inveja.” Eu posso transformar o vício: observo a mim mesmo, percebo o que está me travando, me atrapalhando, e transformo em vez de esconder.
Tem-se que reconhecer, trabalhar e transformar essa energia em algo benéfico, em conversão de si mesmo. Buda e Jesus se encontram aí, são convergentes para o eu verdadeiro, a essência do ser. É o que temos de ansiar por ter, desejar ter. Desejo no sentido da vontade, do querer encontrar o caminho sagrado, a sacralidade dentro de si. E manifestar nas palavras, nos gestos, nos pensamentos.
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