segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Se vem, vai Monja Coen

Se vem, vai

Tudo o que surge de nós, de nossa natureza, de nossa mente, é natural, mas nem tudo nós praticamos. E não praticar não significa reprimir, mas transformar a energia. Neste momento zen, desta sua leitura, também é momento de você perceber como está transformando anseios em vícios, voltar a ter anseios naturais e usá-los para o bem de todos os seres, do coletivo.

“Deus quer nascer e nos colocar em contato com nosso verdadeiro eu. Com nossa imagem, que é a imagem sagrada original e autêntica”, diz Anselm. É o que chamamos de natureza Buda, natureza verdadeira. Xaquiamuni Buda, em seu último sermão, disse: “Há um caminho para que vocês se tornem pessoas grandes”. Grandes porque inteiras, percebendo sua integridade, e acolhendo em si seu lado sombrio. Não só aquilo que é bonito nelas, mas aquilo que é insuficiente e que também faz parte delas. E acolher tudo isso com ternura. Não é para brigar, lutar consigo mesmo. A luta cessa porque acolhem-se as próprias falhas, não para repeti-las, mas para corrigi-las. Para percebê-las, não mascará-las. Sobre isso, uma conversa com a mestra esclarece mais:

— Alô! Monja Coen? Moro aqui em Campinas e estou num processo crucial da minha vida, um pouco perdida, tentando encontrar um rumo, principalmente no sentido espiritual.

— A orientação do zen é sempre o rumo para o autoconhecimento: você se conhecer em profundidade para que possa fazer a escolha adequada. Às vezes, somos provocados na vida pelas impressões de outras pessoas ou por aquilo que o mundo considera em determinada época como certo. Mas é preciso ir ao âmago do seu próprio ser para ver aquilo que você pode fazer – e como fazê-lo – a fim de que o bem maior se manifeste.

É a resposta também para todas as pessoas que são prisioneiras da depressão, da síndrome do pânico. É a doença da época, mas nós também podemos superá-la e atravessar o processo, conhecendo-a e abrindo mão dela, não nos apegando nem à depressão nem ao pânico. É comum que essas pessoas passem por terapia, tomem medicamentos e, mesmo assim, reclamem que nada disso resolve, sempre enfrentando altos e baixos. Estão tão perdidas que creditam a doença a vidas passadas ou às obsessões espirituais. Já não se cansaram disso? Da doença? Desses altos e baixos? Joguem isso fora! Simples assim! Jogar fora.

Mas é tão difícil! Porque tem a ver com o ego, o euzinho, o “eu que sofro mais”, “eu que fico doente”, “eu que tenho depressão”, “eu que tenho pânico”. Isso tudo tem a ver com o nosso “eu menor”. E o caminho é ligar-se ao “eu maior”, é conectar-se com algo que é muito maior do que esse euzinho. Então, quando surgir qualquer sentimento de depressão, eu o reconheço. Porque conheço a depressão, ela vem e vai, e deixo que ela vá embora antes que tome conta de mim. E quando vier a síndrome do pânico, a mesma coisa: eu conheço o pânico, ele faz parte da minha existência, é um antigo amigo. Eu não luto contra ele, não brigo, não o repudio, apenas percebo que vem e vai. E, porque já conhece o processo, você pode perceber quando vem, e deixar ir, com mais facilidade – abrir mão, não segurar nada!

O medo de estar consigo mesmo é um grande obstáculo. Mas o medo faz parte do nosso sistema, então não há por que ter medo do medo. Nascemos com ele, ele é necessário e até nos protege. Às vezes, o alarme fica ligado e acende na hora errada, dá medo até da sombra. Então, é melhor trabalhar esse processo. No zen, a maneira de enfrentar o medo é fazendo a respiração consciente. No momento em que sinto medo, eu o reconheço, identifico-o, rotulo-o: “Isso é medo”. Tento procurar onde ele começa. Os batimentos cardíacos, como estão? E a contração muscular? O que se deve fazer é sentar e respirar. Respirar bem devagar: segurar um pouquinho o ar e soltá-lo bem devagar. Assim, aos poucos, a respiração vai entrando em estado de equilíbrio. No zen, trabalha-se muito o corpo, o físico. Não apenas o mental para conseguir controlar a mente, mas o poder de controlar a respiração.
Há alguns anos, um aluno de Coen Rôshi enfrentou sérios problemas de depressão e pânico. Toda hora, corria para o hospital achando que ia morrer. Ele está bem agora. Passou por tratamento, tomou remédios e, com a meditação, foi se libertando desse “eu menor” que o aprisionava em dores e sofrimentos. Não dá para saber se são mazelas de vidas passadas. O que sabemos é que é desta vida e que é nesta vida que podemos curar o mal.


Qual é o obstáculo na mente que nos impede de encontrar o contentamento? É ele que precisa ser descoberto. O que nos impede de ser feliz, de apreciar a existência assim como ela é? Buda ensinou que temos algo chamado dukha, que é a insatisfação, e que o que nos faz bem é encontrar satisfação com a existência, assim como ela é, e não como gostaríamos que fosse. Comece a apreciar o seu dia ao acordar. Olhe para o dia e veja como está. Se chove está bem, se é um dia de sol também. Porque a vida é breve e passa rápido e às vezes só vamos apreciá-la quando está para terminar. Nesse intervalo entre nascer e morrer, ficamos tristes, deprimidos, querendo que fosse diferente, sentindo uma nostalgia. Viva, então, a nostalgia do seu eu verdadeiro. A nostalgia da saudade do encontro com o sagrado. Pratique a meditação. Lembre-se sempre desse “eu maior”, muito maior do que você.

Existe uma ordem budista japonesa, a Ordem da Terra Pura, que tem várias ramificações e utiliza o chamado nembutsu: “que meu pensamento se torne Buda”. Repete-se o nome do Buda Amitaba, que é o Buda da luz infinita: Namu Amida Butso, Namu Amida Butso, Namu… O fundador dessa ordem prega que, mesmo que se profira uma única vez, mas com fé profunda, o Buda Amitaba nos leva para a Terra Pura; tira nossas angústias e ansiedades porque nos faz conheço a depressão, ela vem e vai, e deixo que ela vá embora antes que tome conta de mim. E quando vier a síndrome do pânico, a mesma coisa: eu conheço o pânico, ele faz parte da minha existência, é um antigo amigo. Eu não luto contra ele, não brigo, não o repudio, apenas percebo que vem e vai. E, porque já conhece o processo, você pode perceber quando vem, e deixar ir, com mais facilidade – abrir mão, não segurar nada!

https://www.youtube.com/watch?v=8lOeioMhmyM&list=PL61A266A42F32A8E9



A libertação da mente de apegos e de aversões nos liberta da ignorância, da ideia de separação, e nos faz entrar em contato com a percepção clara de que estamos numa teia, numa rede de causas, condições e efeitos, e que tudo o que nos acontece tem um sentido para que ocorra. Buscar esse estímulo capaz de dar às nossas ondas mentais, à nossa psiquê, ao nosso espírito, as ferramentas para que nos conectemos a algo muito superior e sagrado, e não a um estímulo que nos leve para baixo. A vida é preciosa, cada instante dela jamais se repete. Comece a apreciar cada um deles, e não depreciá-los. Muitas pessoas estão negativas, como se o mundo todo estivesse errado, como se nada desse certo, e não conseguem considerar nenhuma tentativa de buscar um caminho de luz, uma saída, uma janelinha aberta no universo tão cerrado que suas próprias mentes construíram. Há inúmeras saídas, pois nós vivemos em um mundo quântico, um mundo de infinitas possibilidades. Não limite as possibilidades da sua vida, das suas experiências. Não diga que não tem jeito, porque sempre tem.
Pergunte-se: como eu posso acessar essa mente que está se fechando tanto e, portanto, impedindo o novo?


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