A edição da versão portuguesa do Dhammapada, traduzido pelo Venerável Dhammiko Bhikkhu é uma oferta de Dhamma para distribuição gratuita.
O Dhammapada é o texto mais conhecido e o mais respei- tado do Tipitaka Pāli, as Sagradas Escrituras do Budismo Thera- vada. A obra está incluída no Khuddaka Nikaya (“Colecção Me- nor”) do Sutta Pitaka, mas a popularidade que ganhou elevou-a para as fileiras de um clássico do mundo religioso, muito acima do simples lugar que ocupa nas escrituras. Composta em antigo idioma pāli, esta sucinta antologia de versos constitui um com- pêndio perfeito de ensinamentos do Buddha, compreendendo em sua dissertação todos os princípios essenciais elaborados ao lon- go dos quarenta e tantos volumes do Cânone Pāli.
De acordo com a Tradição Budista Theravada, cada verso do Dhammapada foi originalmente proferido pelo Buddha como respostas a episódios específicos. Relatos destes, juntamente com a exegese dos versos são preservados no comentário clás- sico da obra, compilados pelo grande erudito Bhadantacariya Buddhaghosa no século V a.C., assente em textos que remon- tam a tempos muito antigos. O conteúdo dos versos, no entanto, transcende as circunstâncias limitadas e particulares da sua ori- gem, alcançando através dos tempos, vários tipos de pessoas em diversas situações da vida. Para o simples e humilde, o Dham- mapada é um bom conselheiro; para o exigente intelectual, os ensinamentos claros e directos inspiram respeito e reflexão; para aquele que busca com sinceridade, funciona como uma fonte perene de inspiração e instrução prática. As compreensões que brilharam no coração do Buddha, cristalizaram-se nestes versos luminosos de pura sabedoria. Como expressões profundas de es-
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piritualidade, cada verso é uma directriz para um viver correcto. O Buddha de uma forma inequívoca salientou que quem prati- casse sinceramente os ensinamentos encontrados no Dhamma- pada, provaria da felicidade da libertação.
Devido à sua profunda importância, o Dhammapada tem sido traduzido em várias línguas. Só em inglês há várias tradu- ções, incluindo edições de eruditos como Max Muller e Dr. S. Radhakrishnan. No entanto, quando apresentado a partir de uma perspectiva de referência não-budista, os ensinamentos do Bu- ddha, inevitavelmente, sofrem algumas distorções. Isso, na ver- dade, já aconteceu com a nossa antologia: uma selecção infeliz de versões tem sugerido por vezes interpretações incorrectas, a par de alguns comentários críticos. A presente tradução foi escri- ta, originalmente, no final dos anos de 1950. Alguns anos antes, consultada uma publicação do Dhammapada em língua inglesa, observou-se que as interpretações eram demasiado livres e im- precisas ou então muito académicas e, portanto, houve a necessi- dade de fazer uma nova tradução, evitando estes dois extremos, no sentido de servir um propósito valioso. O resultado final deste projecto, aqui apresentado, é uma humilde tentativa de um prati- cante seguidor do Buddha transmitir o espírito e conteúdo, bem como a linguagem e estilo, dos ensinamentos originais.
Na preparação deste volume consultei inúmeras edições e traduções do Dhammapada em várias línguas, incluindo o sâns- crito, o hindi, o bengali, cingalês, birmanês e nepalês. Beneficiei particularmente das excelentes traduções da obra do falecido Ve- nerável Narada Mahathera de Vajirarama, Colombo, Sri Lanka, e do Professor Bhagawat de Poona, Índia, aos quais deixo o meu profundo agradecimento.
Uma primeira edição desta tradução foi publicada em 1959 e uma segunda em 1966, ambas pela Maha Bodhi Society, em Bangalore, Índia. Para esta terceira edição, a tradução tem sofri-
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do considerável revisão. O subtítulo recentemente adicionado, “O Caminho da Sabedoria do Buddha” não é literal, mas plena- mente aplicável tendo em conta que os versos do Dhammapada têm origem na sabedoria do Buddha e guiam aqueles que se- guem uma vida inspirada nessa sabedoria.
Estou grato aos editores da Buddhist Publication Society pelas suas úteis sugestões, e à própria sociedade pela forma ge- nerosa com que empreendeu a publicação deste trabalho.
Faço esta oferta de Dhamma em memória de gratidão aos meus professores, pais e parentes falecidos e aos ainda vivos. Que eles possam encontrar o caminho na Dispensação do Bu- ddha e atingir o Nibbāna!
Que todos os seres possam ser felizes! Acharya Buddharakkhita
॥ dharmapadam ॥
1. yamakavargaḥ prathamaḥ
manaḥpūrvaṅgamā dharmā manaḥśreṣṭhā manomayāḥ ।
manasā cetpraduṣṭena bhāṣate vā karoti vā ।
tato enaṃ duḥkhamanveti cakramiva vahataḥ padam ॥ 1॥
A mente antecede todos os estados mentais. A mente é o seu criador, pois são todos forjados pela mente. Se uma pessoa fala ou age com uma mente impura, o sofrimento segue-a como a roda que segue o pé do boi.
manaḥpūrvaṅgamā dharmā manaḥśreṣṭhā manomayāḥ ।
manasā cetprasannena bhāṣate vā karoti vā ।
tata enaṃ sukhamanveti chāyevānapāyinī ॥ 2॥
A mente antecede todos os estados mentais. A mente é o seu criador, pois são todos forjados pela mente. Se uma pessoa fala ou age com uma mente pura, a felicidade segue-a como uma sombra que jamais a abandona.
akrośit māṃ avadhī māṃ ajaiṣīt māṃ ahārṣīt me ।
ye ca tadupanahyanti vairaṃ teṣāṃ na śāmyati ॥ 3॥
“Ele abusou de mim, ele bateu-me, ele dominou-me, ele roubou-me”. Aqueles que abrigam tais pensamentos não acal- mam o seu ódio.
akrośit māṃ avadhīt māṃ ajaiṣīt māṃ ahārṣīt me ।
ye tannopanahyanti vairaṃ teṣūpaśāmyati ॥ 4॥
“Ele abusou de mim, ele bateu-me, ele dominou-me, ele roubou-me”. Aqueles que não abrigam tais pensamentos acal- mam o seu ódio.
nahi vaireṇa vairāṇī śāmyantīha kadācana ।
avaireṇa ca śāmyanti eṣa dharmaḥ sanātanaḥ ॥ 5॥
Neste mundo o ódio nunca é apaziguado pelo ódio. O ódio é apaziguado unicamente através de não-ódio. Esta é uma lei eterna.
pare ca na vijānanti vayamatra yaṃsyāmaḥ ।
ye ca tatra vijānanti tataḥ śāmyanti medhagāḥ ॥ 6॥
Há aqueles que não percebem que um dia todos nós mor- reremos. Mas aqueles que percebem isso resolvem as suas desa- venças.
śubhamanupaśyantaṃ viharantamindriyeṣu asaṃvṛtam ।
bhojane'mātrājñaṃ kusīdaṃ hīnavīryam ।
taṃ vai prasahati māro vāto vṛkṣamiva durbalam ॥ 7॥
Assim como uma tempestade deita abaixo uma árvore fraca, o mesmo sucede quando Mara(a) vencer o homem que vive para a busca de prazeres, descontrolado nos seus sentidos, imoderado no comer, indolente, e disperso.
aśubhamanupaśyantaṃ viharantaṃ indriyeṣu susaṃvṛtam ।
bhojane ca mātrājñaṃ śraddhamārābdhavīryam ।
taṃ vai na prasahate māro vātaḥ śailamiva parvatam ॥ 8॥
Assim como uma tempestade não abala uma montanha rochosa, da mesma forma Mara jamais controla o homem que vive a meditar sobre o que é impuro(b), que tem controlo nos seus sentidos, moderado no comer, cheio de fé e esforço sincero.
aniṣkaṣāyaḥ kāṣāyaṃ yo vastraṃ paridhāsyati ।
apeto damasatyābhyāṃ na sa kāṣāyamarhati ॥ 9॥
Quem for depravado, destituído de auto-domínio e vera- cidade, ao vestir o hábito amarelo do monge, certamente não é digno dele.
yaśca vāntakaṣāyaḥ syāt śīleṣu susamāhitaḥ ।
upeto dama-satyābhyāṃ sa vai kāṣāyamarhati ॥ 10॥
Mas quem quer que se tenha depurado da depravação, bem estabelecido nas virtudes e pleno de auto-domínio e veraci- dade, é na realidade digno do hábito amarelo.
asāre sāramatayaḥ sāre cāsāradarśinaḥ ।
te sāraṃ nādhigacchanti mithyāsaṅkalpagocarāḥ ॥ 11॥
Aqueles que confundem o que não é essencial como sen- do essencial e o que é essencial com não sendo essencial, nutrin- do pensamentos errados, nunca chegarão ao que é essencial.
sāraṃ ca sārato jñātvā asāraṃ ca asārataḥ ।
te sāraṃ adhigacchanti samyak-saṅkalpa-gocarāḥ ॥ 12॥
Aqueles que conhecem o essencial como sendo essen- cial e aquilo que não é essencial como não essencial, nutrindo pensamentos correctos, chegarão ao essencial.
yathāgāraṃ duśchannaṃ vṛṣṭiḥ samatividhyati ।
evaṃ abhāvitaṃ cittaṃ rāgaḥ samatividhyati ॥ 13॥
Assim como a chuva penetra na casa mal coberta de col- mo, também a paixão penetra numa mente pouco vigiada.
yathāgāraṃ succhannaṃ vṛṣṭirna samati vidhyati ।
evaṃ subhāvitaṃ cittaṃ rāgo na samati vidhyati ॥ 14॥
Assim como a chuva não penetra numa casa bem coberta de colmo, também a paixão jamais penetra uma mente bem vi- giada.
iha śocati prettya śocati pāpakārī ubhayatra śocati ।
sa śocati sa vihanyate dṛṣṭvā karma kliṣṭamātmanaḥ ॥ 15॥
Aquele que faz o mal sofre no presente e no futuro, sofre em ambos os mundos. Lembrando-se dos seus actos impuros, ele lamenta e fica aflito.
iha modate prettya modate kṛtapuṇya ubhayatra modate ।
sa modate sa pramodate dṛṣṭvā karmaviśuddhimātmanaḥ ॥ 16॥
Aquele que faz o bem, alegra-se no presente e no futuro, alegra-se em ambos os mundos. Relembrando as suas acções pu- ras, ele se alegra-se e exulta.
iha tapyati prettya tapyati pāpakārī ubhayatra tapyati ।
pāpaṃ me kṛtamiti tapyati bhūyastapyati durgatiṃgataḥ ॥ 17॥
Aquele que faz o mal sofre no presente e no futuro, sofre em ambos os mundos. O pensamento “Eu fiz mal” atormenta-o e sofre ainda mais quando renascer nos reinos de aflição.
iha nandati pretya nandati kṛtapuṇya ubhayatra nandati ।
puṇyaṃ me kṛtamiti nandati bhūyo nandati sugatiṃgataḥ ॥ 18॥
Aquele que faz o bem rejubila no presente e no futuro, é feliz em ambos os mundos. O pensamento “Eu fiz o bem”, encanta-o e deleita-se ainda mais quando renascer nos reinos de felicidade.
bahyīmapi saṃhitāṃ bhāṣamāṇaḥ na tatkaro bhavati naraḥ pramattaḥ ।
gopa iva gā gaṇayan pareṣāṃ na bhāgavān śrāmaṇyasya bhavati ॥ 19॥
Por muito que recite os textos sagrados, se não agir nes- se sentido, o homem descuidado é como um pastor que só conta as vacas dos outros - ele não beneficia das bênçãos da vida santa.
alpamapi saṃhitāṃ bhāṣamāṇo dharmasya bhavatyanudharmacārī ।
rāgaṃ ca dveṣaṃ ca prahāya mohaṃ samyak prajānan suvimuktacittaḥ ।
anupādadānaḥ iha vā'mutra vā sa bhāgavān śrāmaṇyasya bhavati ॥ 20॥
Por pouco que recite os textos sagrados, se o homem co- locar o Ensinamento em prática, abandonando a luxúria, o ódio e a ilusão, com verdadeira sabedoria e espírito livre, apegado a nada deste ou de qualquer outro mundo - ele realmente participa das bênçãos de uma vida santa.
॥ iti yamakavargaḥ samāptaḥ ॥
A mente antecede todos os estados mentais. A mente é o seu criador, pois são todos forjados pela mente. Se uma pessoa fala ou age com uma mente impura, o sofrimento segue-a como a roda que segue o pé do boi.
A mente antecede todos os estados mentais. A mente é o seu criador, pois são todos forjados pela mente. Se uma pessoa fala ou age com uma mente pura, a felicidade segue-a como uma sombra que jamais a abandona.
“Ele abusou de mim, ele bateu-me, ele dominou-me, ele roubou-me”. Aqueles que abrigam tais pensamentos não acal- mam o seu ódio.
“Ele abusou de mim, ele bateu-me, ele dominou-me, ele roubou-me”. Aqueles que não abrigam tais pensamentos acal- mam o seu ódio.
Neste mundo o ódio nunca é apaziguado pelo ódio. O ódio é apaziguado unicamente através de não-ódio. Esta é uma lei eterna.
Há aqueles que não percebem que um dia todos nós mor- reremos. Mas aqueles que percebem isso resolvem as suas desa- venças.
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Assim como uma tempestade deita abaixo uma árvore fraca, o mesmo sucede quando Mara(a) vencer o homem que vive para a busca de prazeres, descontrolado nos seus sentidos, imoderado no comer, indolente, e disperso.
Assim como uma tempestade não abala uma montanha rochosa, da mesma forma Mara jamais controla o homem que vive a meditar sobre o que é impuro(b), que tem controlo nos seus sentidos, moderado no comer, cheio de fé e esforço sincero.
Quem for depravado, destituído de auto-domínio e vera- cidade, ao vestir o hábito amarelo do monge, certamente não é digno dele.
Mas quem quer que se tenha depurado da depravação, bem estabelecido nas virtudes e pleno de auto-domínio e veraci- dade, é na realidade digno do hábito amarelo.
Aqueles que confundem o que não é essencial como sen- do essencial e o que é essencial com não sendo essencial, nutrin- do pensamentos errados, nunca chegarão ao que é essencial.
Aqueles que conhecem o essencial como sendo essen- cial e aquilo que não é essencial como não essencial, nutrindo pensamentos correctos, chegarão ao essencial.
Assim como a chuva penetra na casa mal coberta de col- mo, também a paixão penetra numa mente pouco vigiada.
Assim como a chuva não penetra numa casa bem coberta de colmo, também a paixão jamais penetra uma mente bem vi- giada.
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Aquele que faz o mal sofre no presente e no futuro, sofre em ambos os mundos. Lembrando-se dos seus actos impuros, ele lamenta e fica aflito.
Aquele que faz o bem, alegra-se no presente e no futuro, alegra-se em ambos os mundos. Relembrando as suas acções pu- ras, ele se alegra-se e exulta.
Aquele que faz o mal sofre no presente e no futuro, sofre em ambos os mundos. O pensamento “Eu fiz mal” atormenta-o e sofre ainda mais quando renascer nos reinos de aflição.
Aquele que faz o bem rejubila no presente e no futuro, é feliz em ambos os mundos. O pensamento “Eu fiz o bem”, encanta-o e deleita-se ainda mais quando renascer nos reinos de felicidade.
Por muito que recite os textos sagrados, se não agir nes- se sentido, o homem descuidado é como um pastor que só conta as vacas dos outros - ele não beneficia das bênçãos da vida santa.
Por pouco que recite os textos sagrados, se o homem co- locar o Ensinamento em prática, abandonando a luxúria, o ódio e a ilusão, com verdadeira sabedoria e espírito livre, apegado a nada deste ou de qualquer outro mundo - ele realmente participa das bênçãos de uma vida santa.
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